Example Example Example Example Example Example Example O presidente Ikeda observa: "É absolutamente impossível que alguém com uma conduta séria e sincera na fé não consiga ser feliz e prosperar ou que seu ambiente não consiga ser revitalizado. Este é o princípio universal do budismo. O coração é o que transforma tudo. Esta é a natureza prodigiosa da vida. É uma verdade irrefutável". Nam-myoho-rengue-kyo Nam-myoho-rengue-kyo Nam-myoho-rengue-kyo....


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10 de setembro de 2008

A vida e a morte – parte 2

*A vida e a morte – parte 2*

28 DE OUTUBRO DE 2000 — EDIÇÃO Nº 1577

*Para os protagonistas do século XXI – parte 2 Esta é a décima parte da
segunda série de diálogos sobre a juventude realizados entre o presidente
Ikeda e os coordenadores da Divisão dos Estudantes Colegiais, Teruhiko
Yumitani e Yoshiko Ueda , representando os membros da Divisão, publicada na
edição de 1o de janeiro de 1999 do Koko Shimpo, jornal quinzenal da Divisão
dos Estudantes Colegiais da Soka Gakkai.*

*Nascemos porque temos uma missão
*
Pres. Ikeda: Isso é admirável!

Todos têm uma missão. É por essa razão que nascemos. É por isso que,
independentemente do que aconteça, devemos prosseguir na vida superando
tudo. A palavra japonesa que designa missão significa "uso da própria vida".
Para qual objetivo usamos nossa vida? Qual o objetivo de termos nascido
neste mundo, enviados pelo universo? Por que fomos enviados para cá?

O budismo considera o universo como uma gigantesca entidade. Se o
compararmos ao vasto oceano, cada vida é como uma onda nesse oceano. A vida
é quando as ondas se levantam na superfície do oceano, e quando ela volta é
a morte. A vida e a morte são unas com o universo. No nascimento de uma
única vida, há a aprovação e cooperação do universo inteiro.

Todas as vidas são igualmente preciosas. Não podemos aplicar uma hierarquia
ao valor da vida, tornando uma mais valiosa que outra. Cada vida é única. A
vida de cada pessoa é tão valiosa quanto o universo, é una com a vida do
universo e tem a mesma importância. Nitiren Daishonin declara: "A vida é o
maior de todos os tesouros." (The Writings of Nichiren Daishonin, pág.
1125.) E diz ainda: "O Buda diz que a vida é algo que não pode ser comprado
nem pelo preço de todo um sistema maior de mundos." (Ibidem, pág. 983.) E
"Um dia de vida é mais valioso que todos os tesouros do sistema maior de
mundos." (Ibidem, pág. 955.)

É por essa razão que não devemos tirar nossa própria vida. É por isso que
não devemos recorrer à violência, que não devemos ferir nem agredir os
outros. Ninguém tem o direito de prejudicar o precioso tesouro que é a vida.

Yumitani: Um estudante escreveu que quando foi vítima de agressões
questionava por que havia nascido neste mundo doloroso, e por quê, acima de
tudo, havia nascido.

Pres. Ikeda: "Por que nascemos?" — a juventude é a época de buscar a
resposta dessa questão. A juventude é nosso "segundo nascimento". O primeiro
nascimento é o físico, mas é durante a juventude que realmente nascemos como
pessoa. Por isso é um período tão difícil na vida e temos de sofrer tanto. É
uma luta, tal como a do passarinho tentando romper a casca do ovo.

A questão crucial é jamais desistir. Enquanto lutam para encontrar seu
caminho, por favor, orem, reflitam, estudem, conversem com seus amigos e
dêem o máximo para o que é mais importante agora. Se desafiarem a si
próprios sem se darem por vencidos, sua missão — aquela que somente vocês
podem cumprir — será revelada sem falha.

Ueda: Sim. Se o passarinho desistir no meio do caminho, nunca conseguirá
sair do ovo.

Os verdadeiros vitoriosos são os que perseveram até o fim

Pres. Ikeda: Espero que não se deixem derrotar por seus problemas e
batalhas. As pessoas derrotadas pelos problemas não passam por um renovado
crescimento ou "renascimento" como seres humanos e acabam vivendo apenas por
instinto, como animais. E isso é uma morte espiritual.

Todos vocês conhecem Mikhail Gorbachev, ex-presidente da União Soviética e
também meu amigo. Gorbachev é o responsável pelo fim da Guerra Fria. Ele é
um verdadeiro herói que teve o bom senso de dizer: "Essa tolice não pode
continuar!" Querendo encontrar uma forma de levar a felicidade a toda a
humanidade, ele deu um passo decisivo para a mudança.

Como o líder supremo da União Soviética, ele era praticamente o
todo-poderoso de sua terra natal. Ele poderia muito bem ter permanecido
confortavelmente na fortaleza do poder. Mas escolheu um caminho diferente —
um caminho perigoso e arriscado. Ele sofreu atentados, foi traído e
perseguido. Mas, em meio a tudo isso, recusou-se a abandonar seu sonho de
uma sociedade em que as pessoas estivessem em primeiro lugar.

Quando Gorbachev e sua falecida esposa Raisa visitaram o Colégio Soka de
Kansai [em 20 de novembro de 1997], ela proferiu um discurso aos alunos.
"Vocês passarão por todo tipo de sofrimento na vida", disse Raisa. "Nem
todos eles serão curados. Vocês tampouco conseguirão realizar todos os seus
sonhos. Mas há algo que vocês podem alcançar. Há um sonho que podem tornar
realidade.

"Portanto, a pessoa que triunfa no final é aquela que se levanta após cada
queda e avança. A capacidade de continuar a lutar é uma questão de
determinação. A morte não vem para a pessoa que está cansada, mas sim para
aquela que parou de avançar.

"Vocês podem pensar que hoje ainda são jovens mas, antes que percebam, já
terão alcançado a maturidade. Assim é a vida. Logo terão de assumir a
responsabilidade por sua família, pela nação e por todo o planeta.

"Que seus sonhos se tornem realidade! Espero que ocorram coisas maravilhosas
em sua vida! Que sejam todos felizes!"

Ueda: Que mensagem encorajadora!

* *

*Não desperdicem nem um único momento da vida *

Pres. Ikeda: São indescritíveis os sofrimentos e dificuldades pelos quais o
casal Gorbachev passou. "Mas nós sobrevivemos" , disse o casal. "Nós vivemos
e lutamos." Todos vocês estão vivendo agora. Como isso é incrível! Espero
que não desperdicem esse maravilhoso tesouro.

Por falar na Rússia, contei anteriormente como o grande escritor russo
Fiodor Dostoievski (1821–1881) escapou por pouco de ser executado por um
pelotão de fuzilamento. Enquanto aguardava sua vez de ser chamado pelos
executores, começou a pensar em como passaria seus últimos momentos. Ele
sabia que dentro de cinco minutos seria preso a um poste e executado, e
assim desapareceria deste mundo. Não queria desperdiçar esses cinco
preciosos minutos, pois eram seu último tesouro. Precisava utilizá-los
cuidadosamente. Ele dividiu o tempo restante em três partes. Usaria os
primeiros dois minutos para despedir-se de seus amigos e entes queridos. Os
dois minutos seguintes seriam dedicados a uma última reflexão sobre si
próprio. E o último minuto usaria para dar uma última olhada ao seu redor.1

Ao mesmo tempo, decidiu que, se por alguma razão fosse poupado,
transformaria cada minuto em uma era e jamais desperdiçaria um segundo
sequer.

Yumitani: Que experiência intensa deve ter sido!

* *

*Aproveitem a vida ao máximo *

Pres. Ikeda: Pensando nisso, mesmo sabendo que não vamos morrer nos próximos
cinco minutos, todos nós, sem exceção, morreremos um dia. Podemos contar cem
por cento com isso. Não existe nada mais certo.

Victor Hugo disse certa vez: "Todos nós temos uma sentença de morte, mas com
um tipo de adiamento indefinido." 2 O ideal é vivermos cada minuto da vida de
forma útil, como se fosse uma era. As pessoas que não têm um objetivo na
vida chegam ao final dela com um sentimento de vazio, mas aquelas que vivem
com plenitude e empenham-se corretamente até o fim terão uma morte
tranqüila.

Leonardo da Vinci também disse: "Assim como um dia bem aproveitado faz com
que tenhamos um sono feliz, uma vida bem vivida leva a uma morte feliz."³ As
pessoas conscientes do fato de que a morte pode chegar a qualquer momento
vivem cada dia ao máximo. Em uma corrida, também é a linha de chegada que
nos faz correr com toda nossa força.

Ueda: Enfrentar a realidade da morte dá sentido à vida.

Yumitani: Acho que se não morrêssemos nossa vida ficaria vazia e sem
objetivo, assim como não estudamos a menos que saibamos que haverá um exame!

Pres. Ikeda: É verdade. Uma vida sem morte poderia ser uma ótima idéia, mas
também significaria que adiaríamos as coisas, pensando que, mesmo que não
nos preocupássemos no momento, poderíamos dar conta de tudo dentro de dez ou
vinte anos. De fato, provavelmente nunca faríamos nada. Todos nós nos
tornaríamos totalmente decadentes e preguiçosos.

Yumitani: Imagino que seja isso o que acontece com as pessoas que passam a
vida à toa, sem nunca considerar com seriedade a realidade da morte.

Pres. Ikeda: Diante da morte, aspectos como riqueza, posição social, honras
e qualificações acadêmicas não têm nenhum significado. Nesse momento, tudo
se decide de acordo com sua própria vida, destituída de todos os ornamentos
externos. Vocês se sentem realizados? Ou sua vida é vazia, fraca e sem
energia? É por essa razão que necessitamos da fé para forjar nossa vida e
desenvolvê-la.

Ueda: Nunca sabemos quando a morte virá. Portanto, não podemos nos permitir
desperdiçar um momento sequer.

Pres. Ikeda: Não, não podemos. Eu adotei um lema diário: "O dia de hoje
equivale a uma semana!" Ainda não vivi cem anos, mas tenho me empenhado para
criar várias centenas de anos de valor.

* *

*Sem arrependimentos *

Yumitani: Se vivermos cada dia com seriedade e plenitude, não teremos nenhum
arrependimento.

Pres. Ikeda: Trata-se de ter senso de missão. Não existe nada mais forte.
José Rizal, o herói da independência filipina, deu a vida por essa missão.
Ele foi executado por um pelotão de fuzilamento, mas em sua última carta
escreveu: "Não me arrependo do que fiz, e se tivesse de começar novamente,
faria o mesmo, porque esse era meu dever."4

Ueda: Seria maravilhoso se todos nós pudéssemos chegar ao fim da vida
sentindo que, se pudéssemos viver novamente, seguiríamos pelo mesmo caminho.

Pres. Ikeda: Para viver dessa forma, é necessário uma firme concepção da
vida e da morte. O que acontece quando morremos? O que acontece com nossa
vida? Na próxima vez, vamos analisar as respostas que o budismo dá para
essas questões.

Yumitani: Num certo momento da vida, todos se perguntam por que nasceram,
por que morrerão e o que acontecerá após a morte.
Um de nossos membros da Divisão dos Estudantes Colegiais disse que a morte
de seu tio realmente fez com que ele pensasse nisso. Ao ver o corpo de seu
tio sem vida, ele achou que se parecia com um boneco de cera e não pôde
deixar de pensar no significado da morte.

Ueda: Outro estudante escreveu o seguinte: "Quando tenho muitos problemas e
passo por uma situação muito difícil, fico me perguntando por que estou vivo
— qual o sentido disso tudo. Sinto-me tão só algumas vezes e isso me deixa
triste e sem esperanças na vida."

E um outro disse: "Quando meu avô faleceu, pensei na vida e na morte. Fiquei
imaginando como é que as pessoas morrem assim tão facilmente. Também me
arrependi por não ter feito mais por meu avô quando ele estava vivo. A
questão da vida e da morte é a raiz. Todos os demais problemas são as folhas
e ramos

Pres. Ikeda: É algo extremamente valioso ponderar dessa forma sobre a
questão da vida e da morte. Isso é uma prova de nossa humanidade.

Em geral, quando as pessoas vão envelhecendo e acabam presas pela rotina da
vida diária, tendem a parar gradativamente de considerar sobre as questões
fundamentais. Mas a questão da vida e da morte é muito importante. Devemos
considerar profundamente sobre ela durante toda nossa vida.

Se comparássemos nossa existência a uma árvore, a questão da vida e da morte
seria como suas raízes. Embora tenhamos toda uma variedade de problemas e
questões para lidar na vida, eles nada mais são que os ramos e as folhas,
todos ligados à raiz da questão fundamental da vida e da morte.

Yumitani: Algumas pessoas pensam assim: "Ainda sou jovem. Não tenho
necessidade de pensar nisso. Posso esperar até que fique mais velho e esteja
à beira da morte."

Pres. Ikeda: Bem, talvez possamos analisar isso da seguinte forma. Vamos
imaginar a caloura de um curso. Ela faz planos e lança objetivos para seu
primeiro ano no colegial. Mas não conseguirá nada de significativo enquanto
não definir quais serão seus planos para todo o período do colegial.

Yumitani: Isso faz sentido.

Pres. Ikeda: Assim, ela tenta fazer planos para todo o período do colegial.
Mas então percebe que se não pensar no que vai fazer depois de se formar,
também não poderá planejar os anos do colegial de forma sábia.

Ueda: Sim, mas a menos que tenha no mínimo uma vaga idéia do que quer fazer
quando deixar a escola — seja encontrar um emprego ou ir para a faculdade —
realmente não se consegue passar a época do colegial da melhor forma
possível.

Pres. Ikeda: Da mesma maneira, não se pode contemplar de forma significativa
como passar a vida se não souberem o que acontecerá com vocês após a
"formatura" — em outras palavras, após a morte.

Yumitani: Sim, compreendo o que o senhor quer dizer.

*Jovens filósofos, ponderem sobre a questão da vida e da morte! *

Pres. Ikeda: Por essa razão é tão importante que vocês sejam jovens
filósofos e que ponderem profundamente sobre essa questão da vida e da morte
enquanto estão na juventude.

Se as pessoas se deixarem levar pela crença de que não existe vida após a
morte, sucumbirão facilmente à visão de que podem fazer o que quiserem e
então, quando encontrarem alguma dificuldade, simplesmente poderão dar um
fim a sua vida e acabar com tudo.

Yumitani: Sim, hipoteticamente isso é possível.

Ueda: Concordo. Voltando ao exemplo do colegial, tenho certeza de que se
nada houvesse após a formatura, muitos estudantes achariam desnecessário
estudar tanto.

Yumitani: Bem, as pessoas que crêem que não existe nada após a morte
poderiam ainda empenhar algum esforço para viverem de forma agradável, mas
provavelmente não se esforçariam tanto para tentar se aperfeiçoar ou para
servir aos outros.

Pres. Ikeda: É claro que ninguém que acredite que a morte é o fim vive de
forma irresponsável e em absoluto abandono.

Não somente existem restrições sociais contra isso como também, bem lá no
fundo do coração, os seres humanos sabem intuitivamente que a vida é eterna
e que há uma maneira correta de vivê-la.

Yumitani: Há também algumas pessoas que dizem que exatamente pelo fato de
esta ser nossa única existência — como não há vida após a morte — temos de
fazer o melhor no presente. Mas nem todos pensam dessa forma.

Pres. Ikeda: Está se tornando predominante no mundo de hoje a visão
materialista de que não há vida após a morte. Creio que seja essa a razão de
a ética e a moralidade terem se degenerado em mera ambição. No grande
romance Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, a personagem Ivan faz o
seguinte comentário: "Supondo que não houvesse nenhum Deus, o que seria
então considerado como crime? Todas as coisas seriam lícitas?" Se
substituíssemos a palavra "Deus" por "vida após a morte", poderíamos aplicar
a mesma questão. Teríamos um mundo onde poderíamos fazer o que quiséssemos
até que alguém nos impedisse.

Yumitani: De fato, parece que é essa a maneira como o mundo está sendo
conduzido.

* *

*Pessoas que buscam pelo significado da vida *

Ueda: Algumas pessoas fazem a seguinte questão: "A morte é realmente o fim?
Caso assim seja, isso significa então que tudo na vida é vazio e sem
significado? "

Pres. Ikeda: Somos seres que buscam um significado na vida. Enquanto
tivermos um sentido para viver, poderemos suportar qualquer sofrimento. Mas,
sem um propósito na vida, podemos ter tudo que quisermos e ainda assim
sentirmo-nos completamente vazios, como se nosso espírito perecesse.

Assim como têm de adotar uma perspectiva mais ampla de todo seu período no
colegial e dar um significado ao primeiro ano letivo, têm de adotar também
uma visão mais ampla para enxergar o propósito de sua vida, ou seja,
visualizar esta existência e o que acontece após a morte. Sem isso, não
conseguirão valorizar a própria vida. Por essa razão é tão importante a
compreensão da vida e da morte.

A vida do universo é um grande oceano e as ondas representam nossa vida

Yumitani: O budismo ensina que a vida é eterna. Da última vez, o senhor
descreveu o universo como uma grande entidade viva, como um vasto oceano, e
cada vida como uma onda desse oceano.

Ueda: A vida pode ser associada ao momento em que as ondas se levantam na
superfície do oceano. E quando fundem-se com o oceano, temos a morte.

Yumitani: Ainda não entendi muito bem o que significa exatamente
"fundir-se".

Pres. Ikeda: O Sr. Toda disse certa vez que se jogarem um pouco de tinta em
um lago, ela será dissolvida e desaparecerá. Assim é a morte.
Posteriormente, se utilizarem algum aparelho para recolherem os componentes
da tinta dissolvida e juntá-los novamente, isso significaria a vida, disse
ele.
Yumitani: Apesar de a vida da pessoa fundir-se com a vida do universo, sua
identidade não desaparece.

Pres. Ikeda: Essa vida não cessa sua existência. Quando encontrar as
condições ideais, vai se manifestar novamente. Mas se perguntarem se essa
vida existe como algo tangível, a resposta é absolutamente não. Não podemos
localizá-la em algum lugar do universo, pois ela se torna una com todo o
universo. Isso não significa existência nem não-existência. O budismo
refere-se a isso como o estado de não-substancialidade (kuu).

Vamos usar uma metáfora. Atualmente, um número infinito de ondas de rádio
cruzam o globo. Exatamente aqui há agora ondas de rádio de todas as
freqüências — de transmissões de rádio e de televisão, entre outras —
espalhadas ao nosso redor. Algumas delas são do Japão e outras, dos demais
países. Apesar de dizermos que essas ondas existem, não podemos vê-las nem
ouvi-las. Não podemos cheirá-las nem tocá-las. Mas se tivermos um aparelho
de rádio ou TV ou algum outro receptor apropriado, e o sintonizarmos na
freqüência correta, conseguiremos ouvir os sons e ver as imagens que essas
ondas produzem.

Yumitani: Um televisor torna-se assim a condição necessária para fazer com
que uma onda invisível passe a ser visível na forma de imagens de vídeo.

Pres. Ikeda: Talvez poderíamos chamar isso de transição da morte para a vida
pela qual a onda passa. É claro que isso é apenas uma metáfora. Mas, de uma
forma muito similar, no momento da morte a vida funde-se com o universo.
Essas vidas não se chocam umas com as outras e também não ficam sobre as
costas dos outros nem se dão as mãos! Cada vida funde-se com o universo,
embora mantenha sua individualidade.

* *

*Os aspectos físico e espiritual da vida são um só *

Ueda: Será que essa individualidade difere do conceito de uma alma ou um
espírito separado do corpo físico?

Pres. Ikeda: Difere completamente. O budismo ensina que algo assim como um
espírito substancial e separado do corpo não existe. Em todas as formas de
vida, a mente e o corpo — os aspectos espiritual e físico — são um só. Tanto
na vida como na morte, as energias física e espiritual de uma entidade não
podem ser separadas. Elas são unas e indivisíveis.

Acreditar que o espírito pode se separar do corpo e ficar flutuando por aí é
pura superstição. A vida — na qual os aspectos físico e espiritual são
sempre unos — funde-se com a grandiosa vida do universo, embora preserve sua
individualidade.

Yumitani: Ao morrermos, o cérebro é destruído. Então, como ainda podemos ter
alguma energia espiritual? Creio que a razão pela qual muitas pessoas
acreditem atualmente que não há nada após a morte deve-se ao fato de sua
crença em que o espírito reside no cérebro e assim não pode continuar a
existir após as células cerebrais terem morrido.

Pres. Ikeda: Esse é um ponto importante. Já detalhei essa questão em outras
ocasiões, e espero que vocês estudem esses diálogos e escritos, mas a
questão principal é que o cérebro é o local ou o veículo físico para as
atividades mentais ou espirituais; não é a própria mente ou o próprio
espírito. É essa a maneira como o encaramos.

Por exemplo, o grande filósofo francês Henri-Louis Bergson (1859–1941)
comparou a relação entre nosso cérebro e nossa consciência a um cabideiro e
às roupas penduradas nele. Se o cabideiro desaparece — ou seja, se o cérebro
morre — as roupas caem ao chão. Em outras palavras, a atividade mental
torna-se impossível. Mas o cabideiro não representa as roupas.

Ueda: Por falar em Bergson, sei que na primeira vez em que o senhor foi
convidado para uma reunião de palestra da Soka Gakkai, quando estava com
dezenove anos, e lhe disseram que seria um encontro em que as pessoas
falariam sobre a "filosofia da vida", o senhor perguntou se "estavam se
referindo a Bergson".

Pres. Ikeda: Sim, é verdade. Bergson viveu há aproximadamente cem anos, e
sem dúvida essa é a razão pela qual ele usou a metáfora das roupas e do
cabideiro. Hoje em dia, é melhor usar o exemplo de imagens televisionadas e
do aparelho de som e de TV ou do monitor necessário para transmiti-los.

Nesse contexto, a memória e outras atividades mentais são como as imagens e
o som. Eles não aparecem sem um televisor, que pode ser comparado ao
cérebro. E o simples fato de seu maior ídolo aparecer na televisão não
significa que vocês encontrarão uma foto dele lá dentro se desmontarem seu
aparelho de TV. Da mesma forma, quando o cérebro morre, a energia mental
perde seu veículo de manifestação, no entanto, isso não significa que essa
energia tenha deixado de existir. Tampouco a energia física deixa de existir
quando o corpo morre. Ela perde o veículo pelo qual realiza suas atividades
e torna-se latente.
Yumitani: E na próxima vez em que renascermos, essa energia latente será
ativada novamente, não é mesmo?

Pres. Ikeda: Sim, a energia latente se manifesta e entra em atividade mais
uma vez quando se inicia uma nova fase da vida. No entanto, rigorosamente
falando, nossa vida não "renasce". Ela existe continuamente. A identidade de
nossa vida não muda.

Nossa vida — cujo corpo e espírito são um só — continua imutável. A essência
da vida não é algo cujo espírito deixa o corpo e flutua pelo céu ou algo
parecido.

* *

*Os fantasmas *

Ueda: Há pessoas que dizem terem visto um fantasma, ou que ouviram a voz de
sua avó falecida. Essas experiências são apenas sonhos ou ilusões?

Pres. Ikeda: Não, essas experiências podem ser reais. Mas a pessoa não está
vendo um fantasma. Pode ser que as ondas de uma pessoa que está no estado de
morte se sobreponham, por alguma razão, às ondas da que está viva, e a
pessoa viva percebe algo como uma visão ou a voz de uma pessoa já falecida.
A vida é cheia de mistérios. Poderíamos comparar isso a uma linha cruzada no
telefone.

Yumitani: Sim, isso às vezes acontece comigo quando uso o telefone celular.

Pres. Ikeda: O Sr. Toda costumava dizer que ver fantasmas ou ouvir vozes
acontece quando a energia vital da pessoa está fraca. Se estão fracos, são
sobrecarregados por outros sinais e acabam atuando como se fossem um
receptor de rádio ou TV para esses sinais. É por essa razão que são os
únicos a ouvir ou ver essas coisas.

Se sua energia vital estiver forte, isso não acontecerá. De fato, se
recitarem Daimoku conseguirão enviar as ondas do estado de Buda para essas
pessoas e ajudá-las a encontrar a paz.

Yumitani: Então há vidas que não se fundem tranqüilamente com a vida do
universo?

Pres. Ikeda: Sim. Algumas se fundem com a vida universal sofrendo as dores
mais medonhas. Outras ficam aterrorizadas, como se estivessem sendo
perseguidas por um monstro horrível. E outras não têm repouso, como se
estivessem tendo pesadelos.

* *

*O som de nosso Daimoku pode salvar os que estão no estado de morte *

Ueda: Nós podemos ajudar essas pessoas com nosso Daimoku?

Pres. Ikeda: Sim, podemos. O som de nosso Daimoku alcança a vida das pessoas
que entraram no estado de morte. E é claro que também atinge os que ainda
estão vivos. O poder do Nam-myoho-rengue- kyo ilumina tudo no universo, até
mesmo os rincões mais distantes do estado de Inferno, lançando-lhe a luz da
esperança, da paz e da tranqüilidade.

A Lei Mística é formada pelos caracteres chineses myo e ho. Myo (mística)
simboliza a morte e ho (lei), a vida. Juntas, formando a expressão Lei
Mística, representam a unicidade da vida e da morte. Tanto a vida como a
morte são fases da existência. Apesar de a vida e a morte parecerem
totalmente separadas e independentes uma da outra, a entidade da vida
existente nessa dinâmica é única e imutável, e tem uma continuidade eterna
alternando períodos de vida e de morte.

O Nam-myoho-rengue- kyo é o ritmo fundamental dessa vida eterna. É por isso
que o Daimoku tem o poder de ajudar até mesmo aqueles que se encontram no
estado de morte.

Yumitani: O que determina se uma vida está sofrendo ou se está no estado de
tranqüilidade após a morte? O Inferno e o Pico da Águia existem realmente?

Pres. Ikeda: Sim, eles existem. Mas não se encontram em nenhum lugar. O
estado de Fome não está em algum lugar além de Saturno, tampouco o Pico da
Águia se encontra do outro lado do Sol. Gostaria que vocês estudassem mais a
respeito dos Dez Mundos (Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade,
Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e estado de Buda), mas o importante
é lembrar-se de que assim como os Dez Mundos existem em cada pessoa, também
estão presentes no universo.

A vida daquela pessoa cuja tendência básica enquanto viva é permanecer no
estado de Inferno vai se fundir, após o falecimento, com o estado de Inferno
do universo. O estado de Inferno existe em nossa própria vida, mas não
podemos dizer que se encontra em algum lugar particular dentro de nós.
Simplesmente porque sentem uma dor de dente não podem dizer que o estado de
Inferno está em seu dente. Todo seu ser sente dor, e todo seu ser está no
Inferno. Da mesma forma, quando morre uma pessoa cuja tendência básica da
vida é o estado de Inferno, todo o universo torna-se o Inferno para esse
indivíduo.

* *

*Transformando nossa tendência básica da vida *

Ueda: O que o senhor quer dizer com "tendência básica da vida"?

Pres. Ikeda: É a natureza essencial ou a tendência de vida para a qual vocês
sempre retornam.

Estamos todos os dias sujeitos a muitas causas e condições externas que
estimulam em nós várias emoções e efeitos. Nós ficamos zangados, rimos,
pensamos, e nossa vida está sempre num estado de constante mudança. No
entanto, cada pessoa tem sua própria tendência básica. Por exemplo, há
pessoas que são fundamentalmente iradas por natureza e são sempre rápidas em
perder a compostura, e há outras cuja força vital é fraca e ficam facilmente
deprimidas, e pessoas que vivem no estado de Bodhisattva e sempre pensam nos
outros em primeiro lugar. Nossa tendência básica de vida é o que determina
em qual dos Dez Mundos nossa vida ficará após a morte.

Yumitani: Isso é um tanto assustador!

Pres. Ikeda: Após o falecimento, as condições e causas externas não são as
mesmas de quando a pessoa estava viva, e assim sua tendência de vida
torna-se todo seu ser. Em vida, mesmo uma pessoa cujo estado básico é o de
Inferno, que está sempre sofrendo e cuja própria vida é dolorosa, pode
experimentar momentos de alegria e prazer. Mas, após a morte, essa pessoa
permanecerá somente no estado de Inferno.

Ueda: Isso é com certeza uma grande motivação para realizarmos nossa
revolução humana enquanto ainda estamos vivos!

O dinheiro e a fama não nos ajudam no momento da morte

Pres. Ikeda: A tendência básica da vida de uma pessoa torna-se claramente
visível no momento da morte. Uma enfermeira veterana que cuidou de muitos
doentes terminais e esteve com muitos deles em seus momentos finais, disse:
"Parece que em seus últimos momentos toda sua vida passa em flashes diante
de seus olhos, como se fosse um filme. Não o fato de terem se tornado
presidentes de uma companhia ou de terem sido bem-sucedidos nos negócios ou
coisas desse tipo, mas sim o tipo de vida que levaram. As pessoas a quem
amaram e a quem trataram com carinho, e de que forma. Como foram insensíveis
ou cruéis. O sentimento de satisfação por terem vivido de acordo com suas
crenças ou uma dor profunda por terem-nos traído. Tudo o que foram como
seres humanos passa diante de seus olhos. Assim é a morte."

Yumitani: Ouvir isso realmente faz a pessoa parar para pensar.

Pres. Ikeda: Nesse momento, nem a fama nem o dinheiro, o conhecimento e
tampouco a posição social poderão ajudá-los. Seus amigos e familiares não
poderão ajudá-los. Vocês terão de enfrentar sozinhos sua própria verdade. A
morte é realmente rigorosa e inflexível.

E o eu existente nesse momento do falecimento é o que permanecerá durante
todo o estado de morte e continuará na próxima existência. É por essa razão
que o budismo ensina que devemos atingir o estado de Buda enquanto estamos
vivos. Devemos fazer o máximo para cultivar e enriquecer nossa vida como
seres humanos. Esse é o objetivo de nossa prática budista. Nada é mais
importante na vida que realizar nossa revolução humana. E quanto mais jovens
forem, mais fácil será conquistá-la.

*NOTA 1. Cf. Fiodor Dostoievski, The Idiot. David Magarshack, trad. **Londres,
Penguin Books, 1955, pág. 57. 2. From the Great Thoughts. Compilado por
George Seldes. Nova York, Balantine Books, 1985, pág. 194. 3. The Notebooks
of Leonardo da Vinci. Edward McCurdy, trad. Londres, Jonathan Cape Ltd.,
1938, vol. 1, pág. 73. 4. Carlos Quirino, The Great Malayan — The Biography
of Rizal. **Manila, Philippine Education Company, 1940, pág. 258.*


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