deve por sua natureza valer-se da violência e do terror, a mais poderosa
arma no arsenal do gradualismo é o diálogo. Em Sócrates podemos ver uma
profunda devoção ao diálogo, ao combate verbal do qual não há retrocesso, em
uma intensidade que é, num sentido literal, "desafio à morte". Esse diálogo
somente pode ser sustentado por fontes de energia e força espirituais ainda
maiores e mais profundas do que as achadas entre aqueles que prontamente
recorrem à violência.
É somente dentro do amplo espaço criado pelo diálogo - seja conduzido com
nossos vizinhos, com a história, com a natureza ou o cosmos - que a
totalidade humana pode ser sustentada. O silêncio sufocante de um espaço
autista somente pode ser o local de nosso suicídio espiritual. Não nascemos
humanos; apenas podemos conhecer a nós mesmos e aos outros - e, portanto,
ser "treinados" na forma de um ser humano - através da imersão no "oceano da
linguagem e do diálogo" alimentada pelas fontes da tradição cultural.
Recordo-me da bela e comovente passagem do Fédon no qual Sócrates ensina a
seus jovens discípulos que o ódio da linguagem e das idéias (misologos) leva
ao ódio da humanidade (misanthropos) . A suspeita da linguagem que dá
surgimento a um misólogo é apenas o inverso de uma crença excessiva no poder
da linguagem. Os dois são aspectos diferentes da mesma coisa, uma fraqueza
de espírito incapaz de resistir às pressões da proximidade humana produzidas
pelo diálogo. Essa fragilidade espiritual da mesma forma levará uma pessoa a
vacilar entre confiança e suspeita excessivas de outras pessoas, tornando-se
portanto presa fácil das forças de desintegração.
Para ser digno do título "diálogo", nossos esforços nessa direção devem ser
conduzidos até o fim. Refutar esse diálogo e escolher a força é
comprometer- se com a fraqueza humana; é admitir a derrota do espírito
humano. Sócrates, ao meu ver, está encorajando calorosamente seus jovens
discípulos a se treinarem e a se fortalecerem espiritualmente, a manterem a
esperança e o autocontrole, a avançarem destemidamente escolhendo a virtude
acima da riqueza material, a verdade acima da fama...
Embora não possamos enxergar nossa moderna sociedade de massa e o mundo da
antiga Grécia através das mesmas lentes, justamente por isso, acredito que
seja um erro enfatizar exageradamente as diferenças. Em seu estudo clássico
Opinião Pública, Walter Lippmann, por exemplo, clamava repetidamente pelo
diálogo socrático e indivíduos socráticos como as chaves para a mais
completa formação da opinião pública8. Quando encontrei recentemente com o
presidente Stark (da Faculdade Claremont McKenna) e o professor Balitzer em
Tóquio, concordamos plenamente quanto à importância suprema da educação.
Isso porque a educação, quando baseada no diálogo amplo, representa muito
mais do que a mera transferência de informação ou conhecimento; ela
possibilita nos elevar acima das limitações de nossas perspectivas e paixões
paroquiais. Os institutos de ensino superior estão incumbidos com a nobre
tarefa de criar cidadãos socráticos mundiais e lançar-se à busca de novosprincípios em prol da integração pacífica de nosso mundo.
NOTA: O Brasil Seikyo nº 1225 de 15 de maio de 1993 publicou o discurso que o
presidente Ikeda proferiu na Universidade de Mckenna
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